Europeus a lucrar com a guerra de Israel em Gaza

Londres suspendeu parcialmente a exportação de armas do Reino Unido para Israel. No entanto, uma investigação do jornal The Guardian revela que a fabricante europeia de mísseis MBDA continua a lucrar com a venda de peças para bombas utilizadas em Gaza.

Cristina Santos - RTP /
Escombros de escola destruída em Gaza por ataque aéreo de Israel © 2024 UNRWA

A investigação do jornal eletrónico britânico descobriu que a MBDA, multinacional europeia que é a maior fabricante de mísseis da Europa, está a fornecer componentes cruciais para bombas que Israel lança em Gaza. Alguns desses ataques de Israel provocaram a morte de crianças e civis palestinianos, segundo uma investigação conduzida pelo The Guardian, em colaboração com os meios independentes Disclose e Follow the Money (plataformas de jornalismo de investigação).

Os três concentraram-se na bomba GBU-39, produzida pela norte-americana Boeing. Esta bomba leve, mas altamente destrutiva em espaços fechados, é equipada com asas desenvolvidas pela MBDA Inc., filial norte-americana da multinacional. 

Designadas por Diamond Back, estas asas são fundamentais para a precisão da bomba e são fornecidas exclusivamente pela MBDA. Elas desdobram-se após o lançamento, permitindo que a bomba seja guiada até o alvo.
As receitas da MBDA Inc., filial no Alabama (EUA), são canalizadas para a MBDA UK, no Reino Unido, antes de serem distribuídas à sede do grupo em França. 

Em 2023, o grupo MBDA entregou dividendos de cerca de 404 milhões de euros aos seus três acionistas principais: BAE Systems (Reino Unido), Airbus (França) e Leonardo (Itália).

Esta bomba (GBU-39) foi utilizada em 24 ataques entre novembro de 2023 e maio de 2024. Todos os ataques mataram civis palestinianos, incluindo pelo menos 100 crianças. 
Um dos casos considerado mais chocante ocorreu em maio (dia 26) quando uma escola em Gaza – usada como abrigo – foi atingida durante a noite

Morreram 36 pessoas, metade delas crianças. 

Nos escombros foram identificados fragmentos das asas da bomba.

O Exército israelita afirmou que os ataques tinham como alvo centros de comando de Hamas e Jihad Islâmica escondidos em escolas e mesquitas. No entanto, testemunhas, a Amnistia Internacional e as Nações Unidas classificaram vários destes ataques como possíveis crimes de guerra.

Apesar de o Reino Unido ter suspendido 29 licenças de exportação de armamento para Israel, alegando risco de “graves violações” do direito humanitário internacional, essa suspensão não abrange filiais fora do país.

Com a crescente preocupação sobre até que ponto as empresas europeias estão a lucrar com a devastação de Gaza, esta investigação analisou a cadeia de produção da bomba GBU-39 e como tem sido utilizada por Israel na Faixa de Gaza. 

A MBDA é uma multinacional europeia especializada em projeto, desenvolvimento e fabrico de mísseis e sistemas relacionados.

Publicamente, a multinacional europeia anuncia um compromisso com os direitos humanos e querer “evitar impactos negativos diretos e indiretos” sobre os direitos humanos.

No entanto, a MBDA não revela se pondera vender a filial norte-americana. Nem admite suspender a produção de componentes para equipamento usado por Israel na Faixa de Gaza.


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